Por Guilherme K. Noronha, nadador amador e motociclista
Dizer “eu sei nadar” e “eu nado” são coisas conceitualmente diferentes.
Da mesma forma, dizer “eu sei andar de moto” é conceitualmente diferente de dizer “eu piloto”.
A maioria das pessoas que diz “eu sei nadar” está se referindo, na verdade, ao fato de conseguirem entrar numa piscina ou na água do mar e sair de lá com vida, na maioria dos casos. Porém a técnica conhecida por estas pessoas é o básico para manter a cabeça fora da água e continuar respirando. No entanto, se forem colocadas em alguma situação mais extrema, podem não saber como agir.
O mesmo vale para a pilotagem de motos. Aquele que diz que “sabe andar de moto”, costuma saber o básico do básico para manter-se equilibrado e virar pra um lado e pro outro. Mas quando é colocado em alguma situação extrema, não sabe como agir. E é por isso que vemos tantos acidentes envolvendo motos: porque as pessoas não sabem o que fazer.
“Como a natação, a pilotagem de motos
exige um nível de concentração absoluto.”
Eu sempre “soube nadar”, desde criança. Mas comecei a praticar a natação realmente em 2005. Neste início (sim, foi este o verdadeiro início), minha expectativa era aproveitar o tempo da natação, que é possível se praticar solitariamente, para refletir sobre as coisas e sobre a vida, tomar decisões etc. Ledo engano.
Rapidamente descobri que a natação exige um nível de concentração absoluto em todos os movimentos que você está executando: no ritmo da sua respiração, na forma como a sua mão entra na água, no giro do corpo, no tempo que se leva para soltar o ar e respirar novamente… e sem esta concentração absoluta, você não consegue desenvolver a sua natação ao ápice (ao seu ápice individual, pelo menos).
Da mesma forma que a natação, a pilotagem de motos exige um nível de concentração absoluto naquilo que você está fazendo. Na coordenação de todos os movimentos: dos dois pés, das duas mãos, da cabeça, dos olhos… a atenção absoluta ao trânsito e a tudo que está à sua volta, à pista, à sua moto, a todos os sons e barulhos… todos os sentidos devem estar aguçados e você deve estar totalmente concentrado neles. Não se engane.
Se você é daqueles motociclistas que acha que vai sair de moto pra espairecer e pensar na vida, você está enganado. Se você sair de moto pensando na vida, você não vai estar concentrado naquilo que está fazendo e pode se acidentar.
A técnica em detalhes
Tanto a natação quanto a pilotagem de motos são atividades que já tiveram todas as suas técnicas e procedimentos de execução esmiuçados e detalhados a fundo. E este conhecimento é necessário para que você execute qualquer destas tarefas com excelência e segurança. E este conhecimento está aí, disponível em literaturas e cursos.
Se você quer praticar natação ou pilotagem de motos, vá atrás destes conhecimentos e aprenda a fazer direito. Você vai perceber o quanto o conhecimento das técnicas é estimulante quando praticamos estas atividades.
Mais uma vez, em ambos os casos, desde que você aprenda corretamente, a memória muscular ajuda você a executar todos os movimentos sempre da forma correta: a posição correta da mão ao entrar na água ou a forma correta de apertar o manete do freio… o queixo que deve acompanhar o ombro na hora da respiração ou a cabeça que deve girar até o ombro para evitar os pontos cegos… é por aí e tem muito mais.
Pilote e relaxe. E nunca: relaxe e pilote!
Como a natação, a pilotagem de motos também é relaxante e somente agora consegui fazer a associação do porquê. A natação eu já sabia, mas foi recentemente que consegui fazer a mesma associação com a pilotagem de motos.
Por que tanta gente gosta de andar de moto, sair nos finais de semana, passear e, mais ainda, por que tanta gente diz que pilotar a sua moto faz com que você “renove energias”, “clareie a mente” ou “esfrie a cabeça”? Respondo:
Porque a pilotagem de motos é igual à natação: você precisa de um nível de concentração tão grande para executar estas duas tarefas com precisão, que você não deve pensar em mais nada além daquilo que você está fazendo.
E isso é extremamente relaxante!
Nos dias de hoje nós estamos sempre com a cabeça a mil, pensando em milhares de coisas, problemas, soluções, alegrias, tristezas, planos, expectativas, frustrações… E se você consegue, durante um período, desligar-se completamente de todas estas coisas e concentrar-se em uma única tarefa, isso é extremamente relaxante.
E é por isso que andar de moto e nadar são duas coisas extremamente relaxantes e prazerosas.
E você, é daqueles que diz que “sabe nadar” ou você realmente “pilota a sua moto”?
bvmkil
Guilherme, excelente! Além de ter nadado durante muitos anos, eu fui atirador de pistola livre olímpica, um esporte em que se atira à mão livre a 50 metros num alvo em que a bola preta, como chamamos as cinco zonas pretas circulares concêntricas centrais do alvo, têm cerca de 20 cm, e oa zona de maior valor, 10, tem cerca de 3 cm. Nesse esporte, em que uma prova são sessenta em seis séries de dez, um a um, parado, concentrado na respiração, no levantar da arma, que pesa talvez 1,5 quilos, no mirar o alvo, concentrar porque o mínimo desvio pode por tudo a perder (imagine um triângulo com 20 cm de base e 50 metros de altura e calcule qual seria o ângulo do vértice), cada músculo do corpo é importante estar no nível certo de relaxamento e de tensão buscando o equilíbrio perfeito para pressionar levemente o gatilho quando a mira estiver praticamente imobilizada no centro do alvo, sem deixar que a tensão da mão desvie a arma, e por aí a fora. Sempre fiz essa sua analogia com os três esportes, tiro, natação e moto. E repare, em todos três, na hora da prática, você está absolutamente só, entregue a seus pensamentos e à sua concentração, imerso em um capacete, dentro da água ou com tapa ouvido para se proteger dos estampidos. Grande abraço!
Ha, em tempo, quatro zonas pretas!
Obrigado a todos pelos comentários! É muito importante a sua participação e feedback.
Com este tipo de artigo, seguimos em nosso trabalho de transformação da pilotagem de motos no Brasil. Vai levar muito tempo ainda, sabemos, mas esperamos contribuir para salvar muitas vidas neste caminho.
Grande abraçø!
excelente esse assunto pilotagem de moto e natação
Muito coerente e verdadeiro seu artigo! Parabenizo e agradeço pelo aprendizado de sempre!!!
Ótima matéria. Copiei alguns trechos e enviei ao motoclube que participo…
Parabens isso nos ajuda muito no dia a dia.
obrigado.
Parabens Excelente matéria.
Show de bola Guilherme . Belo Artigo.
Estar sempre ligado e nunca na zona de conforto em relação a tudo em nossas vidas é o caminho mesmo.
Parabéns
Abração
Perfeito comentário, Teiga! Obrigado e um abraçø!
Até para digitar corretamente se necessita concentração.
Quando se confia demais no corretor ortográfico, sempre tem algum erro.
Muito bom! Parabéns.
O que trai essas pessoas ,e causa acidentes graves para mim são duas coisas:
primeiro, a soberba, achar que por ter uma moto possante pode tudo,despreparo, muitos saem de uma moro 300 cc e montam em 600 cc, pode ate ser o mesmo estilo de moto,mas resposta do motor é outra, o peso é outro as reações são mais rápidas!
A segundo é tudo isso mais isso que vc disse no seu artigo “O sujeito não sabe andar quer correr,” não obedece os limites de velocidade ,não e ele que conduz a moto a moto que o conduz, ai que morre todo dia um monte de gente!
Muito interessante a explicação viajo de moto à 8 anos mas terminei me perguntando sei pilotar ou andar de moto?. Preciso aprender muito mais. Valeu
Sempre temos alguma coisa a aprender… Obrigado pelo comentário.
Perfeita a sua analogia, Guilherme.
Sua contribuição com esse trabalho aos motociclista do Brasil é muito valiosa. Devo dizer que sempre aprendo algo valioso para o aprimoramento da milha habilidade para conduzir uma moto com mais segurança.
Obrigado e PARABÉNS!.
Obrigado pelo comentário, Antonio!
Concordo plenamente.
Belo texto. A título de colaboração, acrescento ainda algo importante, que faz a diferença entre andar de moto e pilotar: o contra-esterço.
Essa técnica faz toda a diferença na hora de um aperto.
Abraço, Guilherme.
Realmente, Ronald. Já me safei de uma entrada errada em curva com o contra-esterço. Esta e outras técnicas são fundamentais para sabermos agir em situações extremas.
Muito coerente a sua comparação. eu acrescento que quando se esta manuseando qualquer equipamento sua abordagem é valida. Parabéns pelo artigo.
Certamente, Carlos. Da mesma forma que acredito que seja possível estabelecer esta mesma comparação com outras atividades esportivas. Obrigado pelo comentário!